Uma travessia audiovisual, textual e imagética sobre as situações das feiras em meio à pandemia da Covid-19. Aqui, apresentamos as feiras como territórios de persistência diante das mudanças ocasionadas nesse contexto.
.Fotografias autorais: retiradas pelos membros do Grupo de Pesquisa Nordestanças, no ano de 2019, em visita à Feira da Levada e Mercado da Produção, em Maceió.
O que fazer quando a chegada de um vírus afeta a construção histórica de um importante espaço das cidades brasileiras, que representa emprego, sociabilidade, turismo, alimentação, economia?
No dia 11 de Março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia do novo coronavírus.
Em muitas cidades brasileiras, as feiras foram temporariamente desativadas, impactando diretamente na vida de milhares de famílias.
As feiras populares são parcela fundamental da economia e da dinâmica urbana de grande parte das cidades alagoanas e do Brasil. Questões significativas para o seu funcionamento são o contato mais próximo com os alimentos, as relações de troca que nelas se dão e, em certa medida, a sua aglomeração faz parte da experiência de compra.
No entanto, no período da pandemia, esses espaços essenciais das cidades estiveram em profunda fragilidade fazendo com que seus efeitos sejam sentidos até hoje, devido em parte às suas condições sanitárias e arranjos espaciais aglomerados – que se mostram incompatíveis com as recomendações propagadas pelos órgãos ligados ao controle da pandemia.
Aqui apresentamos uma coletânea com as narrativas dos feirantes de todo o Brasil sobre a situação das feiras durante o início e o auge da Pandemia da Covid-19.
O que buscamos dizer com isso? O que registramos? O que queremos lembrar? O espaço é o que une, é o que permite o caminhar, a relação entre o que vemos e sentimos e o que projetamos nas nossas andanças.
Temos lembrado?
Por que queremos lembrar?
"Nunca esperava de ver essa feira fechada, que o dia que eu baixei as portas eu saí daqui em lágrimas, porque eu nunca imaginava de ver essa situação que nós estamos vivendo hoje. As pessoas nos nossos meios são as mais velhas, então não tão saindo de casa... Caiu muito o movimento" - Valdinar trabalha na Feira Central da Ceilândia, DF, em entrevista ao G1 lembra do dia em que, por decreto de 18 de Março de 2020, as lojas foram fechadas. Duas semanas depois, uma parte das feiras foi aberta.
"Ela fez totalmente errado, porque em primeiro lugar ela é uma feira livre, só funciona uma vez por semana, aí ela vai e tira a feira. E aquele coitado velho que só depende daquela feira, que fica contando os dias pra ir pra feira? Vamos supor, a feira do Pintolândia, tem gente que só vende na feira do Pintolândia e na feira do Garimpeiro, aí tá contando com seu produto pra ir vender, a única fonte de renda que ele tem, aí lá vem o anúncio: ‘ah, as feiras fechou, a feira livre’. Onde já se viu fechar a feira livre?" - Elizete, feirante da Pintolândia, sobre a suspensão.
"Se a gente não conseguir que o prefeito libere a gente, 1º de Junho agora, a gente já tá movendo uma manifestação com os feirantes aí e moradores que estão nos apoiando com família, que a gente vai fazer uma carreata até o centro de Aparecida, para ver se a gente consegue trabalhar" - Dionízio, feirante de Aparecida, Goiânia.
"A nossa feira foi a primeira a ser fechada e de lá para cá estamos esperando que possamos voltar tomando com os cuidados necessários. Os shoppings já voltaram e nós, que estamos ao ar livre, não podemos voltar?" - Fabrício, feirante do Largo da Ordem, Curitiba.
"Tem que obedecer, né? Então, a gente fez o possível. A orientação que eu recebi, entendeu, eu procurei fazer: que é o álcool gel, máscara que eu vou colocar, eu trouxe luva, água pro freguês lavar a mão, tem o sabão, entendeu? (...) Porque esse aqui é nosso ganha pão, entendeu? Então não adianta querer passar do limite, entendeu? Tem gente que tem dó de gastar o dinheiro pra investir, mas tem que gastar, porque depois vem o retorno. Pior é você ficar em casa sem fazer nada" - Luiz Carlos, feirante, diz que é necessário obedecer as regras e fala das adaptações que fez.
"Olha, eu acho muito importante porque a gente vive disso aqui, então a importância da feira é porque a gente vem e já vai com o dinheiro no bolso, então é muito importante pro agricultor, que a gente mora em assentamento. Em assentamento a gente não tem salário, o salário da gente é a feira, então o dia que a gente não vem na feira, a gente também não tem o dinheiro, as dívidas não para de chegar. Então é muito importante nós se preparar, ter as obediência pra poder tá na feira. Eu acho muito importante" - Feirante Maria falando da importância da feira para o sustento do feirante e agricultor.
"Nós colocamos fitas de isolamento nas bancas, nós estamos permitindo apenas a entrada de pessoas com máscaras, álcool em gel nas entradas e todas as bancas também estão com álcool em gel. Foram essas medidas que a gente conseguimos fazer e podemos fazer, que são as medidas que todo mundo exige, né, de segurança pra ser feita e nós estamos tentando trabalhar legalizados, dentro das normas" - Feirante Ana falando sobre a organização dos vendedores.
"Foi uma alegria tão tamanha que não tem explicação. Tem mais de 40 anos que nós somos feirantes, é uma necessidade do trabalho e as amizades que a gente criou, o vínculo que nós temos com os fregueses" - Valter, feirante, ao revelar a alegria de ter voltado a trabalhar após reabertura das feiras.
FILME
. Feiras Livres: Narrativas da Pandemia
. 05min29
. Feirantes, consumidores e outros olhares narram a situação das feiras livres ao persistirem a mais um obstáculo: a pandemia do Coronavírus. O curta-metragem baseia-se nas pesquisas do observatório de notícias realizados pelo Grupo de Pesquisa Nordestanças em 2020.
Conheça o observatório com o resultado completo com as notícias e as narrativas sobre a pesquisa das Feiras Livres em meio à Pandemia Covid-19, acesse o site do Grupo de Pesquisa Nordestanças no link abaixo:
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